Indíce
O nome rosácea remete-nos facilmente para uma cor rosada e para vermelhidão e a algum “problema” relacionado com a pele. Mas, o que é a rosácea? Dá para prevenir ou tratar? Como é que se manifesta? Qual o seu impacto no quotidiano de uma pessoa?
Leia o artigo e descubra tudo sobre a rosácea: o que é, tipos, sintomas, causas, tratamentos, como prevenir e encontre respostas às questões mais frequentes.
O que é a rosácea?
A rosácea é uma doença crónica cutânea de cariz inflamatório que se desenvolve na pele do rosto, marcando principalmente a zona das bochechas, nariz, queixo e testa [1].
A doença manifesta-se principalmente pelo aparecimento de rubor (vermelhidão), bem como pápulas (borbulha), pústulas (borbulhas com pus) e telangiectasias (pequenos vasos sanguíneos visíveis) [1].
O desconforto gerado prende-se com o aumento da sensibilidade cutânea, que é também um aspeto desta doença. Este desconforto afeta a qualidade de vida e, por vezes, até a própria auto-estima devido às manchas ruborizadas e borbulhas presentes na pele do rosto.
Esta condição possui uma grande prevalência, afetando cerca de 5% da população adulta mundial [2]. Sendo uma doença crónica, o objetivo de tratamento passa sempre pelo controlo de sintomas e prevenção do desenvolvimento da doença.
Tipos de rosácea
Esta doença é dividida em 4 tipos de rosácea:
- Rosácea eritematotelangiectásica: caracteriza-se por uma vermelhidão transitória e/ou persistente e edema (inchaço) facial. Os vasos sanguíneos podem ser visíveis na zonas das bochechas e nariz;
- Rosácea papulopustulosa: adquire todas a características da rosácea eritematotelangiectásica, surgindo ainda pápulas e pústulas que podem ser transitórias;
- Rosácea fimatosa: ocorre um espessamento e aumento da rugosidade da pele, principalmente na zona do nariz; existe o aparecimento do ‘rinofima’ que consiste no crescimento excessivo de glândulas sebáceas, combinado com o espessamento da pele e alargamento dos poros. Para além do nariz, pode ocorrer noutras regiões com maior número de glândulas sebáceas.
- Rosácea ocular: manifesta-se por vermelhidão dos olhos, ardor, picada, secura, comichão, sensibilidade à luz, visão turva e telangiectasias conjuntiva e/ou palpebral. Pode também caracterizar-se pelo desenvolvimento de blefarites (inflamação palpebral) e conjuntivites.
Sintomas de rosácea
De forma geral, os sintomasda rosácea são:
- Rubor (vermelhidão na pele)
- Vasos sanguíneos vísiveis
- Sensação de queimadura
- Secura cutânea
- Edemas
- Pápulas
- Pústulas (pequenas bolhas na pele que contém pus)
Segundo o American National Rosacea Society Expert Committee [3], estas manifestações cutâneas podem ser dividas em primárias e secundárias.
Características primárias | Características secundárias |
Flushing (Eritema transitório) Eritema Persistente Telangiectasias (Vasos sanguíneos visíveis) Pápulas Pústulas | Sensação de queimadura / picada Secura cutânea Edema (inchaço) Sinais oculares Alterações cutâneas fimatosas |
A rosácea diagnostica-se sempre que existe a presença de uma característica primária, e esta tem uma distribuição centrofacial (surgimento na zona central do rosto). As características secundárias podem não estar sequer presentes ou até surgirem noutra região da pele.
Quais são as causas de rosácea?
Existem várias causas que podem contribuir para o desenvolvimento de rosácea, tais como fatores genéticos, alteração do sistema imunitário, proliferação de microrganismos, etc.
Fatores imunitários
O sistema imunitário, quando a rosácea está presente, encontra-se alterado: existe uma libertação superior de mediadores pró-inflamatórios (que causam inflamação) possivelmente na tentativa de reparação da epiderme (visto que a função barreira da pele fica comprometida).
Fatores microbiológicos
A presença de um ácaro Demodex folliculorum nas glândulas sebáceas é maior na pele com rosácea versus a pele normal. Este é também responsável por potenciar a libertação de mediadores pró-inflamatórios que piora o quadro presente.
A bactéria Staphylococcus epidermidis, também presente na pele saudável, surge na pele com rosácea com estirpes modificadas e mais reativas, estimulando o sistema imunitário inato que induz a inflamação.
Fatores genéticos
Existem estudos realizados em gémeos que comprovam que a componente genética representa 50% da predisposição ao desenvolvimento da doença [4].
Fatores neurovasculares
A componente vascular é primordial nos casos de rosácea: a vasodilatação dos vasos sanguíneos na derme origina eritema/vermelhidão [5].
Os vasos alterados podem conduzir à produção de espécies reativas que provocam inflamação e também estimulam a angiogénese (formação de novos vasos). São muitas vezes estes os responsáveis pelo surgimento de telangiectasias.
Fatores dietéticos
As células e nervos cutâneos possuem receptores que são ativados por substâncias como álcool, alimentos condimentados e picantes, bebidas quentes, especiarias, cafeína, entre outros e que ativam respostas inflamatórias.
Estas respostas inflamatórias pcontribuem para a manifestação e agravamento de doenças cutâneas como a rosácea.
Fatores externos
Fatores ambientais, como por exemplo a radiação UV despoleta o flushing (o avermelhamento da pele), uma vez que promove a produção de espécies reativas de oxigénio que desencadeiam e agravam os sintomas de rosácea.
Outros fatores como exposição a temperaturas altas, banhos mais quentes e exercício físico também contribuem para a sua exacerbação.
Stress e sono
O stress é responsável por induzir a vasodilatação através do sistema nervoso simpático. Em adição, o stress induz também a produção de cortisol que estimula a resposta inflamatória [6].
No caso do sono, a sua má qualidade também gera agravamento da inflamação e alterações vasculares.
Quais são os fatores de risco rosácea?
A rosácea surge de forma mais frequente em tipos de pele mais claros (fototipos baixos), usualmente de origem Céltica e do Norte da Europa [7].
Embora possa ser transversal em qualquer idade, é mais comum o seu desenvolvimento entre os 30 e 50 anos, sendo o género feminino o mais afetado.
Em casos mais raros, a rosácea também pode surgir e manifestar-se em crianças.
Como diagnosticar rosácea
O diagnóstico da rosácea baseia-se na análise clínica, avaliando historial e os aspetos clínicos presentes no momento. Usualmente não são necessários exames laboratoriais.
De acordo com a guidelines do comité global ROSacea COnsensus (ROSCO), para o diagnóstico da rosácea e correta identificação dos diferentes sub-tipos, devem-se identificar um ou mais sinais (rubor, telangiectasia, etc.) na zona central do rosto. Estes podem ser transitórios e ocorrem de forma isolada.
O diagnóstico diferencial por ser útil paraa descartar condições dermatológicas semelhantes. Em casos de dúvida no diagnóstico, a biopsia cutânea é o exame mais adequado.
Tratamentos para rosácea
Existem vários tratamentos para a rosácea:
- uso tópico (colocação na pele)
- sistémico (via oral)
- Tratamentos com laser
Em qualquer um dos casos, é essencial que o tratamento da rosácea é adaptado ao seu subtipo clínico, aos sintomas apresentados e à sua gravidade. Os tratamentos para a rosácea podem ser realizados de forma isolada ou combinada.
Para reduzir a vermelhidão utilizam-se vasoconstritores tópicos como a brimonidina e a oximetazolina. Já o ácido azelaico, um ingrediente comum em cremes para a rosácea, é eficaz por sua ação antibacteriana e anti-inflamatória.
Para tratar eritema, pápulas e pústulas recorre-se a antibióticos como metronidazol e eritromicina.
Em casos mais graves, são indicados tratamentos orais como antiparasitários para eliminar o ácaro associado à rosácea. Além de antibióticos e beta-bloqueadores que ajudam a controlar o rubor e a vasodilatação.
Em situações onde a rosácea é mais resistente ou intensa, tratamentos com laser ou luz pulsada são opções eficazes para reduzir a vermelhidão e remover telangiectasias. Estas técnicas são particularmente úteis para pacientes com sintomas persistentes e que não respondem adequadamente aos tratamentos tópicos e orais.
Para que os resultados dos tratamentos para a rosácea sejam os melhores é preciso evitar os fatores que a desencadeiam e garantir o uso de cosméticos de cuidado especializado.
Leitura recomendada: Rotina de skincare para pele com rosácea.
Categoria | Tipo de tratamento | Tratamentos | Ação e benefícios |
---|---|---|---|
Cosméticos | Tópico | Hidratantes específicos, protetores solares, cremes calmantes | Protegem a pele sensível, reduzem a irritação e ajudam a controlar a vermelhidão. |
Vasoconstritores | Tópico | Brimonidina e oximetazolina | Promovem vasoconstrição, reduzindo a vermelhidão. |
Ácidos | Tópico | Ácido azelaico | Ação antibacteriana e anti-inflamatória; elimina bactérias e reduz sinais de inflamação. |
Antibióticos | Tópico | Metronidazol e eritromicina | Reduzem eritema, pápulas e pústulas. |
Antiparasitários | Oral | Ivermectina | Elimina o ácaro Demodex folliculorum, responsável pela rosácea. |
Antibióticos | Oral | Doxiciclina | Efeito anti-inflamatório que minimiza os sintomas da rosácea. |
Beta-bloqueadores | Oral | Carvedilol e propranolol | Inibem receptores dos vasos sanguíneos, minimizando o flushing e promovendo vasoconstrição. |
Tratamentos com luz e laser | Dispositivos | Laser, luz pulsada, laser de dióxido de carbono, etc. | Reduzem eritema/vermelhidão e auxiliam na remoção de telangiectasias. |
Como prevenir rosácea?
A rosácea previne-se com autoconhecimento dos fatores que a despoletam em si e com o uso de cuidados cosméticos que evitem surtos e recidivas. Em suma, para prevenir a rosácea recomenda-se que:
- Melhore qualidade de vida: manter os níveis de stress equilibrados; garantir uma boa alimentação (sem alimentos estimulantes); praticar uma boa rotina de sono.
- Garanta fatores externos adequados: evitar temperaturas extremas, evitar banhos quentes, evitar radiação UV direta, evitar exercício físico demasiado intenso, entre outros fatores que possam piorar a sua condição.
- Garanta rotina de pele específica: possuir cuidados cosméticos adequados que combinem uma limpeza suave, uma hidratação fresca e calmante e uma fotoproteção mineral elevada (50+).
- Consulte dermatologia: ter consultas de dermatologia com regularidade, para garantir que os cuidados se mantêm adequados a si e que a rosácea se mantém controlada.
Como escolher um cosmético adequado para a rosácea?
Os cuidados cosméticos adequados são cruciais na manutenção da pele com rosácea e podem fazer toda a diferença na minimização do desconforto diário!
De forma geral, os produtos devem ser extremamente suaves e não agressivos para a barreira cutânea. Para isso, deve-se evitar ingredientes irritativos e sensibilizantes, tais como:
- álcool
- extracto de hortelã-pimenta (mentol) e extracto de eucalipto (eucaliptol)
- cânfora
- hamamélis
- fragrâncias
- propilenoglicol
- esfoliantes físicos/microdermabrasivos
- retinóides e alfa hidroxiácidos (ácido glicólico, ácido mandélico, ácido cítrico), uma vez que podem ser sensibilizantes, devendo ser evitados em concentrações elevadas.
Produtos cosméticos para rosácea
- Cuidados de limpeza: estes devem ser suaves e com o mínimo de teor detergente (um agente que pode ser agressivo para a pele que agrava as manifestações de rosácea).
- Cuidados de hidratação: usualmente possuem ingredientes calmantes. Podem ter pigmento de cor que neutraliza a vermelhidão (usualmente um pigmento verde).
- Cuidados de fotoproteção: possuem filtros solares menos agressivos (minerais) e fator de proteção solar elevado (50+).
- Cuidados complementares: as águas termais e as brumas podem ser excelentes aliados para ter consigo no exterior! Irão proporcionar um alívio imediato de intensa frescura.
Quando consultar o médico?
Consulte o dermatologista logo na fase inicial. Desta forma, assegura o correto diagnóstico e aconselhamento.
Quando surge alguma recidiva, que não está a conseguir controlar com a sua rotina cutânea habitual, deve dirigir-se ao dermatologista para que este lhe possa prescrever cuidados mais específicos e que minimizem os danos e desconforto cutâneos.
Perguntas frequentes
A rosácea tem cura?
Não, é uma doença crónica que combina vários fatores e que carece de cuidados e tratamentos ao longo da vida.
A rosácea é contagiosa?
Não, embora tenha na sua génese a presença de microrganismos (ex: ácaros, bactérias, etc), estes não são responsáveis pela sua transmissão, mesmo quando envolve toque direto com a pele infetada.
Quais são as opções de tratamento tópico para a rosácea?
O tratamento tópico consiste em tratamentos de limpeza e hidratação específicos para rosácea e/ou tratamentos medicamentosos, recorrendo a formulações com antibióticos, antiparasitários, ácidos (entre outros) que garantam o controlo da doença.
Exemplos de substâncias usadas: oximetazolina, ivermectina, ácido azelaico, metronidazol, permetrina, retinóides, peróxido de benzoílo, etc. Existem várias sugestões e várias formulações (ex: geis, loções e cremes para rosácea, etc.) visto que os tratamentos tópicos são a primeira linha a ser prescrita pelos dermatologistas, combinados com cosméticos específicos.
Quais são as opções de tratamento oral para a rosácea?
O tratamento oral envolve várias substâncias tais como antibióticos, isotretinoína, anti-parasitários, beta-bloqueadores, etc. Estes são usados como segunda linha, sempre que é necessário um tratamento mais intensivo.
A dieta pode influenciar a rosácea?
Sim, alguns alimentos mais estimulantes podem desencadear o agravamento da rosácea, tais como: álcool, alimentos picantes, cafeína, produtos lácteos, citrinos, etc.
A rosácea pode causar complicações a longo prazo?
Sim, dentro dos subtipos da rosácea os que desenvolvem telangiectasias, rinofima (espessamento cutâneo na zona do nariz) e problemas oculares, podem ser mais difíceis de reverter. Permanecendo os vasos sanguíneos muito visíveis de forma persistente, espessamento, vermelhidão cutânea, cicatrizes e, no caso ocular, conduzir até à perda de visão.
A rosácea pode ser confundida com outras condições de pele?
Sim, existem outras condições de pele (lúpus, acne, dermatite, etc.) que partilham dos mesmo sintomas. O diagnóstico diferencial é crucial para o correto diagnóstico de rosácea.
Existe uma relação entre rosácea e problemas gastrointestinais?
Sim, existem estudos que comprovam esta correlação visto que são doenças que partilham causas raiz comuns, nomeadamente a inflamação crónica e a presença de microrganismos bacterianos nocivos.
Pessoas com rosácea podem vir a desenvolver com maior facilidade problemas gastrointestinais, tais como síndrome do intestino irritável, disbiose intestinal, etc.
Conclusão
Desde a sua origem, causas, sintomas e tratamentos, a rosácea tornou-se uma condição fácil de compreender… embora requeira atenção aos gatilhos e consistência nos cuidados, de modo a garantir o seu controlo total.
Caso a sua pele manifeste eritema e vasos sanguíneos visíveis no rosto, já saberá como fazer para garantir que o rubor não se torne num sintoma díficil de controlar.
Com os cuidados certos e consultas frequentes com o seu dermatologista, a sua qualidade de vida manter-se-á inabalável!
Fontes
- Maden S. Rosacea: An Overview of Its Etiological Factors, Pathogenesis, Classification and Therapy Options. Dermato. 2023; 3(4):241-262. https://doi.org/10.3390/dermato3040019
- Gether L, Overgaard LK, Egeberg A, Thyssen JP. Incidence and prevalence of rosacea: a systematic review and meta-analysis. Br J Dermatol. 2018;179(2):282-289. doi:10.1111/bjd.16481
- Wilkin J, Dahl M, Detmar M, et al. Standard classification of rosacea: Report of the National Rosacea Society Expert Committee on the Classification and Staging of Rosacea. J Am Acad Dermatol. 2002;46(4):584-587. doi:10.1067/mjd.2002.120625
- Aldrich N, Gerstenblith M, Fu P, et al. Genetic vs Environmental Factors That Correlate With Rosacea: A Cohort-Based Survey of Twins. JAMA Dermatol. 2015;151(11):1213-1219. doi:10.1001/jamadermatol.2015.2230
- Aubdool AA, Brain SD. Neurovascular aspects of skin neurogenic inflammation. J Investig Dermatol Symp Proc. 2011;15(1):33-39. doi:10.1038/jidsymp.2011.8
- Wang Z, Xie H, Gong Y, et al. Relationship between rosacea and sleep. J Dermatol. 2020;47(6):592-600. doi:10.1111/1346-8138.15339
- Rainer BM, Kang S, Chien AL. Rosacea: Epidemiology, pathogenesis, and treatment. Dermatoendocrinol. 2017;9(1):e1361574. Published 2017 Oct 4. doi:10.1080/19381980.2017.1361574