O que é a acne: tipos, sintomas e tratamentos

339

A acne assusta quem já a teve ou já ouviu falar dela, mas e se provarmos que é possível preveni-la com os cuidados certos?

Embora exista predisposição genética e hormonal, ao garantir um equilíbrio cutâneo, conseguirá a pele desejada. Através de limpeza, hidratação e proteção solar, a sua pele manter-se-á sem lesões. E caso surja a borbulha indesejada, também deixamos as melhores substâncias que pode aplicar.

Continue a ler o artigo para saber o que é a acne, como prevenir e como tratar!

O que é a acne?

A acne é uma doença inflamatória da pele que afeta as glândulas sebáceas e os folículos pilosos da pele. A principal função das glândulas sebáceas é produzir e expelir, através dos folícolos pilosos, uma substância oleosa chamada sebo.

De forma resumida, a acne ocorre quando estas glândulas e folículos ficam obstruidos pela acumulação de óleo (sebo) ou células mortas da pele, levando à formação de cravos, espinhas, pústulas e, em casos mais graves, cistos e nódulos.

Em alguns casos, para além da inflamação, os ductos dos folículos sebáceos podem ficar colonizados com Propionibacterium acnes/Cutibacterium acnes.

Esta bactéria existe na pele normal e torna-se patogénica quando a invade a através dos ductos. Esta ativa uma resposta imune inata que provoca a progressão de comedões não inflamatórios (pontos negros) para pápulas (borbulhas), pústulas (borbulhas com pus) até nódulos inflamatórios [1].

DICA: Leia o nosso artigo “As camadas de pele” e descubra como e onde se manifesta a acne.

Onde se manifesta?

A acne pode afetar várias zonas do corpo, principalmente as que possuem um maior número de glândulas sebáceas, tais como: rosto, peito, costas e ombros.

Existem várias formas de tratamentos de acordo com a severidade e persistência da acne, como veremos posteriormente.

Tipos de acne

Existem vários tipos de acne, consoante a sua origem e tipologia das afeções cutâneas:

1. Acne vulgaris: é a tipologia mais comum; caracteriza-se por uma combinação de comedões, pápulas, pústulas e nódulos;
2. Acne cística: forma agravada de acne vulgaris; presença de quistos dolorosos e profundos que podem levar a cicatrizes;
3. Acne conglobata: acne que envolve múltiplos comedões que estão interligados por canais inflamados; muito comuns em homens jovens;
4. Acne fulminans: forma mais grave de acne, acompanhado de febre e dores musculares; pode ser necessária intervenção médica urgente.
5. Acne neonatal/infantil: a neonatal ocorre em recém-nascidos devido à transferência de hormonas maternas para o bebé; a infantil ocorre entre 3 meses e 1 ano;
6. Acne mecânica: resulta da fricção ou pressão cutânea; pode ocorrer devido ao uso de roupas apertadas ou por agressão cutânea (ex: barbear/ depilação); 
7. Acne cosmética: uso de produtos cosméticos, especialmente de base oleosa, que provocam obstrução de poros;
8. Acne medicamentosa: provocada por medicamentos que causam alterações na pele (ex: glucocorticóides, contraceptivos orais, etc.) 
9. Acne hormonal: potenciada por alterações hormonais; comum em mulheres adultas e que se agrava nos dias de menstruação; 
10. Acne derivada de rosácea: com presença de rubor e telangiectasias; sem comedões (Leia também: Como prevenir e tratar rosácea)

Também é comum a tipificação de acordo com o espectro inflamatório: acne mais inflamatória (com mais pápulas e pústulas) ou mais retencional (com comedões). 

Sintomas da acne

Devido à sua componente inflamatória, a acne manifesta-se, de forma comum, pela presença de:

1. vermelhidão: presente nas lesões e no seu contorno;
2. manchas/ pigmentação: devido ao conteúdo inflamatório, a pele fica com tendência a pigmentar quando exposta principalmente à radiação UV; podem formar-se crostas que alteram a textura da pele; 
3. cicatrizes: a lesões mais severas podem conduzir a alteração do tecido cutâneo, levando a marcas e cicatrizes permanentes; 

Lesões provocadas pela acne

Relativamentes às diferentes tipologias de acne, existem lesões diferenciadas [2]: começões e lesões inflamatórias.

Comedões

Os comedões são geralmente conhecidos por pontos, que podem ser negros ou brancos:

• pontos negros/ comedões abertos: pequenas pontilhas pretas causadas pela oxidação do sebo quando exposto ao ar.
• pontos brancos/ comedões fechados: pequenas protuberâncias brancas que resultam de poros obstruídos que não rompem.

Lesões inflamatórias

• pápulas: protuberâncias vermelhas e com sensibilidade, mas que não possuem pus.
• pústulas: protuberâncias com um centro de pus.
• nódulos: lesões maiores e dolorosas pois são mais profundas na pele.
• quistos: lesões grandes e com muito pus; caso mais grave devido à intensa inflamação e infecção; que podem provocar cicatrizes.

Quais são as causas de acne?

Os principais gatilhos para o aparecimento de acne são a hiperprodução de sebo, a obstrução de folículos e a presença de bactérias. No entanto, é ainda importante considerar fatores hormonais e genéticos, a alimentação, o stress e outros fatores externos.

1. Hiperprodução de sebo: o excesso de sebo produzido pela glândulas sebáceas é o fator mais comum para desenvolver acne.
2. Obstrução de folículos: a tendência para a acumulação de células mortas e sebo, pode resultar em maior tendência para inflamar e até afetar a pele.
3. Presença de bactérias: maior colonização de Cutibacterium acnes- maior probabilidade de colonizar os ductos e conduzir a inflamação.
4. Fatores hormonais: fases de maiores picos hormonais podem conduzir ao desenvolvimento de acne (ex: puberdade, gravidez, ciclo menstrual,…)
5. Fatores genéticos: o historial familiar contribui para uma maior facilidade de desenvolvimento de acne.
6. Dieta: alguns alimentos podem induzir a acne, principalmente alimentos de alto valor glicémico (ex: pão branco, massa, etc.) 
7. Stress: conduz a uma maior produção de sebo e, por isso, maior tendência a acne.
8. Fatores mecânicos: a fricção ou pressão na pele pelo uso de objetos (ex: máscaras, capacete,…) e o contacto permanente com a mesma através de toque, podem conduzir ao desenvolvimento da doença.
9. Fatores externos: alguns cosméticos, poluição, humidade/calor e certos medicamentos são alguns exemplos de fatores que podem contribuir para a acne.

Diagnóstico

A acne tem um diagnóstico simples pelo facto de apresentar lesões visíveis na pele. Desta forma o diagnóstico pode ser feito da seguinte forma:

1. Avaliação clínica: compreender o historial dermatológico, bem como fatores externos que possam estar a condicionar a saúde cutânea (ex: toma de medicamentos, fatores hormonais, rotina de skincare, etc.) 

2. Exame físico: o exame físico permite identificar fisicamente a presença de lesões (ex: comedões, pústulas, etc.) características da acne; este também permite diferenciar de doenças semelhantes, tal como a hidradenite supurativa (inflamação das glândulas sebáceas) ou a foliculite (infeção no folículo piloso);

3. Testes laboratoriais: podem ser realizadas análises clínicas complementares que analisem níveis hormonais ou culturas bacterianas para a identificação das bactérias presente na pele;

4. Testes imagiológicos/computacionais: as técnicas de imagem permitem uma melhor visualização das lesões, por forma a identificar corretamente a sua tipologia; existem sistemas de classificação da acne que analisam o tipo e o número de lesões específicas e são escalados de acordo com a gravidade da lesão ou pela sua quantidade. 

Estes exames e testes devem ser realizados por um especialista médico ou  outro profissional de saúde, por forma ao diagnóstico ser bem realizado e específico. 

Tratamentos para a acne

Segundo a America Academy of Dermatology Association, o tratamento de acne consiste em atingir 3 objetivos:

1. Tratar o acne existente;
2. Minimizar novas recidivas (evitando que o acne despolete novamente);
3. Prevenir marcas e cicatrizes pós-acne.

Estes objetivos são gerais e não existe um tratamento único, igual para todos. De acordo com o diagnóstico realizado, vários tratamentos podem ser realizados de forma conjugada.

Tratamento tópicos

Os tratamentos tópicos caracterizam-se pela aplicação direta na pele de medicamentos ou produtos que têm como objetivo tratar um condição dermatológica.

Neste caso, no tratamento de acne há uma série de ingredientes que tem efeitos comprovados e é bastante recomendada pelos dermatologisticas, tais como:

• Retinóides: os retinóides têm uma ação comprovada no tratamento da acne, pela sua ação esfoliante, que desobstrui os poros, contribuindo assim para a eliminação de comedões e pápulas [3]. Também é um excelente tratamento de manutenção para evitar recidivas.
• Ácido salicílico: este ácido pode ser encontrado sob várias formulações: desde gel de limpeza a cremes hidratantes; promove a esfoliação química da pele que potencia a sua regeneração.
• Ácido azelaico: possui ação antibacteriana e anti-inflamatória [4]; com benefício de minimizar as marcas/ manchas formadas pós-acne. 
• Peróxido de benzoílo: com ação comedolítica, anti-inflamatória e bactericida [4]; reduz as lesões de acne em poucos dias; pode ser usado isoladamente ou em combinação com outros tratamentos tópicos.
• Antibióticos tópicos: diminui o número de bactérias existentes na pele, minimizando também a inflamação associada. Ex: clindamicina, eritromicina, etc. 

Leia também: Para que serve o ácido salicílico?

Tratamentos orais

• Agentes hormonais (ex: pilúlas anti-concepcionais): pode ser muito eficaz no controlo da acne pelo facto de equilibrar o nível hormonal; apenas pode ser usado por mulheres acima dos 15 anos, sem complicações de saúde e que não pretendam engravidar [4].
• Agentes antiandrogénicos (ex: espironolactona): em casos de acne resistente e com componente hormonal envolvida, a espinolactona pode ser recomendada a mulheres pelas suas propriedades antiandrogénicas [4] (inibe a ação de hormonas como a testosterona).
• Iso-Tretinoína: derivado de vitamina A que inibe a função das glândulas sebáceas: menor produção de sebo, menor proliferação de C.acnes, menor inflamação cutânea [4]. A isotretinoína apenas é aconselhada em casos de acne severa, dado que possui alguns efeitos secundários: xerose (pele extremamente seca), queilite (inflamação labial), desidratação ocular, dor de cabeça, etc.
• Antibióticos orais: os antibióticos sistémicos/orais são indicados em casos de acne moderada a grave [4]; devem ser combinados com os agentes tópicos por forma a aumentar a eficácia; ex: doxiciclina, minociclina, etc. 

Outros tratamentos

Existem tratamentos mais intensivos que podem ser usados quando o dermatologista considere essencial:

• peelings químicos: remoção intensiva de células mortas, removendo o excesso de sebo, desobstruindo os poros  e estimulando intensivamente a regeneração celular.
• tratamentos laser/ luz: a combinaçao de luz azul e vermelha, pela sua ação antibiótica e anti-inflamatória, respetivamente; parecem ser uma opção viável na eliminação da acne [5].
• cirurgia: procedimento invasivo onde são extraídas cirurgicamente as lesões de acne; utilizado apenas em casos muitos graves.

Como prevenir acne?

A prevenção da acne passa por algumas considerações que pode adotar na sua rotina diária, tais como: 

1. Limpeza de pele: limpeza cutânea,  tanto do rosto, como do corpo, por forma a eliminar o excesso de sebo e células mortas; 
2. Produtos cosméticos não comedogénicos: todos os cuidados a serem aplicados deverão ter a indicação ‘não comedogénico’ visto que evitam a formação de comedões e obstrução dos poros;
3. Evitar agressão cutânea: não tocar excessivamente na pele, nem limpá-la em demasia; só desta forma esta mantém o seu equilíbrio.
4. Dieta: estudos comprovam que uma dieta com baixo valor glicémico (glicose equilibrada no sangue), bem como, evitar a ingestão de laticínios [6], ajudam a controlar a acne.

Rotina de skincare para pele com acne

Para além dos tratamentos e medidas complementares já explanados, os cuidados adicionais passam por uma rotina de skincare adequada. Para assegurar o tratamento correto deve seguir a seguinte rotina:

1. Limpeza de rosto

Comece por limpar a pele do rosto e com enxaguamento, isto é ainda mais importante para pele oleosa, uma vez que a mesma gosta de cuidados com enxaguamento (que são retirados com água) visto que potenciam a limpeza de uma forma mais profunda e eficiente.

2. Aplique um hidratante

Seja em fluído ou gel, agora é altura de aplicar um hidratante que deve ser adquado ao seu tipo de acne. 

Este tipo de cremes de tratamento possuem ingredientes esfoliantes (ex: hidroxiácidos), anti-inflamatórios (niacinamida) e anti-bacterianos (ex: piroctona olamina).

3. Aplicar um sérum

Os séruns são cuidados com maiores concentrações dos ativos que potenciam a ação dos hidratantes. Este é um tipo de cosmético muito eficaz devido a elevada penetração que conseguem na pele.

4. Aplicar proteção solar

Um protetor solar é recomendável para qualquer tipo de pele e altura do ano.

Quando se fala de pele com tendência acneica o protetor solar ganha uma importância extra e a sua textura deve ser fluida e não oleosa com fator de proteção máximo (protetor solar FPS 50+) para evitar as hiperpigmentações/manchas.

EXTRA:

Aplique uma máscara facial ou um exfoliante de rosto uma a duas vezes por semana.

A ação das máscaras vai ajudar a controlar o excesso de oleosidade com ingredientes sebo-reguladores (ex: caulino) e purificantes (ex: zinco). Já os esfoliantes químicos ou físicos refinam o grão da pele, melhorando a sua limpeza e textura. 

DICA: Em nenhum caso as lesões devem ser espremidas ou removidas manualmente! Isto pode piorar o quadro infeccioso e potenciar ainda mais a acne. Outras medidas complementares podem também ser equacionadas para auxiliarem na prevenção da acne (ex: acunpuntura, ventosaterapia, suplementos alimentares, aplicação de óleo de árvore do chá,…).

Descubra a rotina de skincare para pele oleosa.

Quando consultar o médico?

O médico deve ser consultado na face mais inicial de acne para que os cuidados certos sejam logo recomendados e o tratamento dermatológico iniciado o mais cedo possível.

No caso de quebra de auto-estima, derivado do desconforto com a sua pele e imagem, deve ser consultado um  psicólogo para que possa auxiliar neste sentido.

Perguntas frequentes

A acne é contagiosa?

Não, a acne não é contagiosa. Ela não pode ser transmitida de uma pessoa para outra através do contato físico, compartilhamento de objetos pessoais ou qualquer outro meio de transmissão direta.

Pode-se tratar acne na gravidez?

Sim, mas é importante ter cuidado ao escolher os tratamentos, pois alguns medicamentos e produtos podem não ser seguros para o feto. Como tal, nunca dispense a consulta de um dermatologista ou um obstetra antes de iniciar qualquer tratamento para acne durante a gravidez.

A acne elimina-se sozinha?

A acne pode desaparecer sozinha, especialmente quando os fatores hormonais que a causam se estabilizam. No entanto, a experiência com a acne pode variar amplamente de uma pessoa para outra.

É possível eliminar a acne definitivamente?

Sim, mas é um desafio, pois a condição está frequentemente ligada a fatores hormonais e genéticos que não podem ser controlados. No entanto, com um tratamento adequado e cuidados consistentes com a pele, muitas pessoas conseguem controlar e minimizar os surtos de acne de forma significativa.

Quanto tempo demora a ver resultados dos cosméticos para acne?

Depende. O tempo variar dependendo do tipo de produto utilizado, da gravidade da acne e da resposta individual da pele ao tratamento.

Conclusão

Agora que já sabe o que é a acne, quais as suas causas, sintomas e os tratamentos disponíveis, tem tudo ao seu alcançar para conseguir uma pele mais saudável.

Um dos passos mais importantes é a adoção uma rotina de cuidados para pele com acne adequada, eficaz e simples. Limpe sempre a sua pele diariamente, hidrate-a com os ingredientes certos para si e protege-a do sol!

Lembre-se também de evitar o toque excessivo na pele e mantenha uma dieta sem picos de açúcar. Para resultados consistentes e um melhor acompanhamento, procure sempre um dermatologista.

Despeça-se da acne e mantenha a saúde da sua pele!

Fontes

1. Tanghetti EA. The role of inflammation in the pathology of acne. J Clin Aesthet Dermatol. 2013 Sep;6(9):27-35. PMID: 24062871; PMCID: PMC3780801.
2. Ramli, R., Malik, AS, Hani, AFM e Jamil, A. (2012), Análise de acne, classificação e métodos de avaliação computacional: uma visão geral. Skin Research and Technology, 18: 1-14.
3. Paula Ludmann, MS; Acne: Diagnóstico e Tratamento (2024). Disponível a 18-07-2024: https://www.aad.org/public/diseases/acne/derm-treat/treat 
4. Linda K. Ogé, MD; Alan Broussard, MD; and Marilyn D. Marshall, MD (2019). Disponível a 18-07-2024: https://docmate.ca/storage/1294/Acne-Vulgaris-AAFP.pdf 
5. Paschoal, Francisco M.; Ismael, Ana Paula Palu Baltieri (2010). Disponível a 18-07-2024: https://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/05/884155/2010_117.pdf 
6. Fiedler F, Stangl GI, Fiedler E, Taube KM. Acne and Nutrition: A Systematic Review. Acta Derm Venereol. 2017;97(1):7-9. doi:10.2340/00015555-2450