Indíce
O que é e para que serve o ácido salicílico? Sabia que este ingrediente pode ajudar no tratamento da acne e ao mesmo tempo diminuir as manchas na pele?
Simples mas altamente eficaz em várias afecções cutâneas, o ácido salicílico é a resposta para muitas das necessidades da pele.
Quem é que não gosta de um ingrediente simples, eficaz e multi-ação? Continue a ler e descubra tudo sobre o ácido salicílico
O que é o ácido salicílico?
O ácido salicílico (SA) é um dos ingredientes ativos mais recomendados por dermatologistas. O ácido salicílico é classificado como um hidroxiácido, sendo especificamente um beta-hidroxiácido (BHA) e está presente em muitas formulações como ingrediente principal ou secundário.
O ácido salicílico é muito usado na indústria farmacêutica, como medicamento de verrugas e calos, e nas formulações dermocosméticas, introduzido principalmente nas gamas de acne, manchas e tratamento de pés.
Artigo relacionado: O que é a acne?
Como funciona e para que serve o ácido salicílico?
Como referido anteriormente, o ácido salicílico serve para tratar a acne e manchas. Para isso, este ingrediente é incorporado nas fórmulas de diversos cosméticos. Mas, quais são os mecanismos de ação que fazem este ingrediente ser tão eficaz?
Segundo a Clinical, Cosmetic and Investigational Dermatology [1], o ácido salicílico possui 2 ações essenciais: queratolítica e comedolítica.
Estas ações resultam da afinidade que o ácido salicílico tem para os lípidos (gordura) que facilita a sua ligação aos lípidos da epiderme (camada superficial da pele), bem como às glândulas sebáceas.
Curiosidade: Sabia que o ácido salicílico é bastante usado para tratar a queratose capilar?

O que é e para que serve a ação queratolítca?
A ação queratolítica do ácido salicílico refere-se à sua capacidade de promover a descamação da camada externa da pele, por outras palavras: esfoliação cutânea.
Na sua ação queratolítica, o ácido salicílico extrai proteínas dos desmossomas (junções celulares), a coesão das células é perdida, levando à esfoliação cutânea [1]. Esta descamação é um efeito útil para várias problemáticas cutâneas, como veremos mais à frente.
Artigo relacionado: Como fazer a esfoliação da pele?
O que é e para que serve a ação comedolítica?
A ação comedolítica refere-se à capacidade de uma substância de desobstruir e prevenir a formação de comedões na pele (pontos negros ou brancos).
Para isso, o ácido salicílico através da sua ação comedolítica, diminui a produção de sebo pela pele [2] e desobstrui os poros. Esta ação minimiza a formação de novos comedões (pontos negros) e pústulas (borbulhas), sendo um cuidado excelente para pele oleosa com tendência acneica.

Ação anti-inflamatória
Para além de todas as ações referidas, o ácido salicílico ainda diminui a inflamação da pele [3], inibindo a ação das prostaglandinas que provocam a inflamação.
Por isso é que o ácido salicílico é um cuidado primordial para pele com acne! Combina todas estas ações que são tudo o que se quer na pele acneica.
O ácido salicílico pode ser um excelente cuidado para diversas zonas do corpo que necessitem de controlo de oleosidade e ação esfoliante tanto no rosto, como no corpo, cabelo, etc..
Leitura recomendada: Os melhores esfoliantes corporais.
Quais são os benefícios do ácido salicílico?
Os benefícios do ácido salicílico para a pele são:
- esfoliação suave (causa descamação suave na pele);
- redução do processo inflamatório;
- diminuição da produção de sebo;
- diminuição das imperfeições da acne;
- minimização da tonalidade das manchas [4];
- desobstrução dos poros
- melhora a textura da pele;
Em suma, o ácido salicílico atua na pele e ajuda a cuidar da mesma de acordo com as suas ações principais: esfoliante, anti-acneico, anti-seborreico e anti-inflamatório.
Devido às suas ações e eficácia, este é um ingrediente presente em muitas fórmulas. O facto de combinar ações transversais (anti-inflamatório, anti-seborreico, anti-acneico e esfoliante) torna-o um ingrediente multi-ação ideal no tratamento de:
- Acne vulgar;
- Hiperpigmentação (melasma/ sardas/ lentigo);
- Dermatite seborreica;
- Calos e calosidades;
- Verrugas.
Artigo relacionado: Leia o artigo da farmacêutica Daniela Marques “o que é e como tratar o melasma“.
Fontes do ácido salicilico
Na natureza, este ácido está presente na casca e folhas de algumas plantas:
- Cascas de salgueiro (Salix spp.): uma das fontes mais comuns; as cascas de salgueiro eram utilizadas antigamente pelas suas conhecidas propriedades de diminuição da dor e inflamação [5]
- Outras plantas: as folhas de Gaultheria procumbens e a planta Spiraea ulmaria [5] contêm derivados do ácido salicílico.
É na maior parte das vezes sintetizado quimicamente através do processo de Kolbe-Schmit [6], do qual resulta o salicilato de sódio que, quando acidificado, origina o ácido salicílico.
Ácido salicílico vs outros hidroxiácidos: as diferenças
O ácido salicílico é semelhante às ações de alguns outros hidroxiácidos. No entanto, existem diferenças entre eles.
Os outros ácidos que se confundem muitas vezes com o ácido salicílico são os alfa-hidroxiácidos (AHA) (ex: ácido glicólico, ácido lático, ácido mandélico, etc,): No entanto cada um deles tem uma finalidade mais específica:
- Ácido Lático: mais focado na esfoliação e hidratação da pele;
- Ácido Mandélico: mais suave que os restantes e, por isso, mais indicado para pele sensível;
- Ácido Retinóico: derivado da vitamina A; a sua ação promove a regeneração celular e por isso é mais indicado para tratamentos anti-envelhecimento;
- Ácido Azelaico: para além das propriedades anti-inflamatórias, possui também propriedades antibacterianas;
- Ácido Glicólico: mais usado para esfoliar, melhorando a textura e tonalidade da pele.
DICA: Lê o artigo e descobre para que serve o ácido glicólico na pele.

Como usar o ácido salicílico nos cuidados da pele
Como usar ácido salicílico para tratar acne?
O ácido salicílico é um ingrediente bastante recomendado por dermatologistas para quem procura tirar cicatrizes e marcas de acne. Este pode estar presente em vários produtos cosméticos, desde a limpeza até aos tratamentos semanais.
- Gel / espuma de limpeza: diariamente, de manhã e à noite;
- Tónico / loção: para complementar a limpeza, de manhã e à noite;
- Sérum: 1 vez por dia, idealmente à noite;
- Creme: 2 vezes por dia, de manhã e à noite;
- Máscara: 1 a 2 vezes por semana à noite – deixar atuar e depois remover.
Nota: Não se aconselha o uso destes produtos todos em simultâneo numa rotina de cuidados da pele, uma vez que a pele pode não tolerar. Opte por escolher 1 a 2 produtos e vá aplicando conforme a resposta da sua pele.
Como usar ácido salicílico para tratar a hiperpigmentação?
No tratamento de manchas, sejam elas de melasma, sardas ou lentigo, o ácido salicílico também é benéfico em várias formulações complementares:
- Tónico/ loção: para complementar a limpeza, de manhã e à noite;
- Creme: 2 vezes por dia; manhã e noite;
- Sérum intensivo: 1 a 2 vezes por semana à noite; deixar atuar e depois remover (EX: The Ordinary Aha 30% + Bha 2% Peeling Solution).
Nota: O ácido salicílico atua melhor na hiperpigmentação quando combinado com outros ingredientes anti-manchas.
DICA: Leia o nosso artigo e encontre os melhores cremes despigmentantes para rosto.
Tratar dermatite seborreica com ácido salicílico
No caso da dermatite, o tratamento difere de acordo com a região do corpo afetada: rosto, corpo ou couro cabeludo. Estas são das fórmulas mais comuns para as 3 situações:
- Emulsão / gel-creme– rosto/corpo/couro cabeludo – aplicação diária (Ex: Ducray Kelual Ds Creme);
- Shampoo – couro cabeludo – a cada lavagem, deixar atuar em contacto com o couro cabeludo (Ex: D’aveia Ds Shampoo)
Leia também: Como tratar a dermatite seborreica?
Tratar calos, calosidades e verrugas com AS
Existem fórmulas medicamentosas com altas concentrações de ácido salicílico. O que se recomenda é seguir sempre a indicação do médico neste tratamento.
- solução cutânea (ex: calicida)
- creme – indicado para suavizar a pele em casos de calosidades ligeiras – aplicação diária (Ex: Cerave Sa Renewing Foot Cream Creme Pés Hidratante E Reparado)
Concetrações de AS de acordo com necessidades
O ácido salicilíco apresenta-se nas formulações em diversas percentagens, de acordo com a necessidade pretendida.
Concentração de AS (ácido salicílico) | Indicações Terapêuticas |
0.5% – 10% | Acne |
3% – 6% | Hiperqueratoses (ex: psoríase) |
20% – 30% | Peelings superficiais |
5% – 40% | Verrugas e calosidades |
50% | Lesões com hiperpigmentação |
As concentrações/ formulações com menor percentagem de SA encontram-se como produtos de venda livre. No caso das concentrações mais altas, devem ser sempre recomendadas por um profissional de saúde.
Leia também: Psoríase: o que é, tipos, sintomas e tratamentos
Dicas para usar ácido salicílico
Por forma a usar o ácido salicílico na sua potência máxima, temos dicas para que tire dele o maior proveito:
- Concentrações introduzidas de forma gradual: começar a experimentar o ácido salicílico em concentrações mais baixas (0,5% a 1%) e ir aumentando se tolerável e necessário;
- Aplicação em pele bem seca: o facto do ácido salicílico ter mais afinidade com a gordura, evite ter a pele molhada na sua aplicação; a pele seca potencia a sua eficácia [7];
- Uso moderado: não deve utilizar o ácido salicílico de forma excessiva [8] porque pode levar a extrema secura e desconforto da pele;
- Uso de proteção solar: a pele com o uso de ácido salicílico fica mais frágil e sensível ao sol. Desta forma deve ser usada proteção solar durante todo o tratamento.
- Evite tratamento com outros ácidos: os ácidos são componentes agressivos para a camada cutânea; o tratamento combinado com outros agentes sensibilizantes pode levar a irritações e danos severos.
Não deve assim conjugar o ácido salicílico com: retinóides (vitamina A), ácido ascórbico (vitamina C) e ácidos de peeling (hidroxiácidos).

Quais são os efeitos secundários do ácido salicílico?
Quando não é usado de forma correta, este ácido pode provocar [9]:
- Irritação cutânea: com vermelhidão e prurido;
- Extrema secura: desequilíbrio da matriz da pele que leva ao seu ressecamento;
- Descamação: o efeito esfoliante em excesso pode acarretar descamação da pele;
- Hipersensibilidade solar: pele tão fragilizada que se torna excessivamente sensível à luz solar;
- Reações alérgicas: apenas em casos raros; reação alérgica pode desencadear inchaço no local e conduzir a dificuldades respiratórias.
Quem pode e quem não pode incluir o ácido salicílico na rotina
O ácido salicílico é usualmente bem tolerado e seguro para todos os tipos de pele. No entanto, não deve ser usado nas seguintes situações [1]:
- Alergia a salicilatos
- Dermatite ativa no local de tratamento
- Infeção cutânea no local de tratamento
- Infeção viral aguda
- Gravidez
- Tratamento com isotretinoína
Perguntas frequentes
Posso usar ácido salicílico todos os dias?
Sim, caso o seu tratamento o exija e a sua pele o tolere. Deve estar atento a sinais de irritação, descamação ou queimadura.
Posso combinar o ácido salicílico e niacinamida?
Sim, os seus efeitos podem ser complementares, principalmente em pele oleosa e com tendência a acne inflamatório. Ambos os componentes possuem ação anti-inflamatória: que reduz a vermelhidão; e ação seborreguladora: que diminui o excesso de oleosidade.
Leitura recomendada: Niacinamida: o que é e para que serve?
O ácido salicílico é mau para os rins?
Quando tomado a nível oral, o ácido salicílico pode ter implicações nos rins, principalmente em doentes com função renal comprometida. Quando aplicado na pele, visto que a absorção para a corrente sanguínea é quase inexistente, o seu uso não acarreta risco. No entanto, caso possua problemas renais deve sempre validar com o seu médico a utilização de ácido salicílico.
O acido salicílico remove pontos negros?
Sim! Como o ácido salicílico esfolia e penetra mais profundamente na pele, permite a remoção de pontos negros. Para além disso, previne também o seu aparecimento e melhora a textura e aspeto da pele oleosa com tendência acneica.
DICA: Leia o artigo e conheça os melhores esfoliantes faciais.
Como combinar ácido salicílico?
Regra geral, este ácido pode ser combinado com os diferentes ingredientes, excepto com retinóides (vitamina A), ácido ascórbico (vitamina C) e ácidos de peeling (hidroxiácidos).
Conclusão
Agora que já sabe o que e para que serve o ácido salicílico, certamente que na próxima vez que passar por ele o vai querer experimentar!
Como tivemos oportunidade de ver, este ingrediente é incluindo em diferentes produtos e diversas fórmulas, tais como: cosméticos para rosto e corpo (séruns, cremes, loções, máscaras, shampoos), bem como também em produtos farmacêuticos (pomadas, etc).
Este ácido surge em diferentes concentrações para que seja mais eficaz de acordo com as suas necessidades. Lembra-se que as concentrações mais altas podem trazer efeitos secundários indesejados. Como tal, recomenda-se que siga sempre as indicações do seu médico ou dermatologista.
Seja para o tratamento da acne, hiperpigmentação ou dermatite seborreica há várias formas de incluir o ácido salicílico numa rotina de cuidados da pele. Aliás, mesmo sem nenhuma afeção cutânea (problema na pele), o uso deste ingrediente poderá ser uma excelente opção tendo em consideração a sua ação esfoliante e alisante.
Fontes
- Arif T. Salicylic acid as a peeling agent: a comprehensive review. Clin Cosmet Investig Dermatol. 2015;8:455-461. Published 2015 Aug 26. doi:10.2147/CCID.S84765
- Lu J, Cong T, Wen X, et al. Salicylic acid treats acne vulgaris by suppressing AMPK/SREBP1 pathway in sebocytes. Exp Dermatol. 2019;28(7):786-794. doi:10.1111/exd.13934
- Yukawa, N., Kamo, S., Sato, S., & Kobayashi, H. (1998). Anti-inflammatory effect of salicylic acid. Archives of Dermatological Research, 290(2), 75-81.
- Grimes PE. Management of hyperpigmentation in darker racial ethnic groups. Semin Cutan Med Surg. 2009;28(2):77-85. doi:10.1016/j.sder.2009.04.001
- Leung, A. Y., & Foster, S. (1996). Encyclopedia of Common Natural Ingredients Used in Food, Drugs, and Cosmetics. John Wiley & Sons.
- Shriner, R. L., Hermann, C. K. F., Morrill, T. C., Curtin, D. Y., & Fuson, R. C. (2003). The Systematic Identification of Organic Compounds. John Wiley & Sons.
- Del Rosso JQ, Levin J. The clinical relevance of maintaining the functional integrity of the stratum corneum in both healthy and disease-affected skin. J Clin Aesthet Dermatol. 2011;4(9):22-42.
- Thiboutot D, Gollnick H, Bettoli V, et al. New insights into the management of acne: an update from the Global Alliance to Improve Outcomes in Acne group. J Am Acad Dermatol. 2009;60(5 Suppl):S1-S50. doi:10.1016/j.jaad.2009.01.019